Paternidade

Por Daisaku Ikeda

Quando eu estava na quarta ou quinta série escolar, eu estava brincando com meu amigo, perto de um grande reservatório de água e acabei caindo. Eu poderia facilmente ter morrido, pois eu não possuia muita força. Mas, meu amigo correu rapidamente até o meu pai, que ao ouví-lo, rumou para o reservatório. Assim, ele acabou me resgatando. Ele era tão robusto – para uma criança, seu pai sempre parece grande – que eu me lembro a sensação de seus braços me puxando, um senso de ter sido salvo do perigo. Eu nunca esquecerei este fato. Neste momento eu pensei – isto é ser um pai, este é o tipo de pai que eu gostaria de ser quando crescer. Não havia nada de extraordinário em meu pai. Ele era um homem de poucas palavras, mas seu amor por seus filhos era profundo e certo.

Em minha própria família, eu sempre estive extremamente ocupado e minha esposa, Kaneko, agia como uma "central de informações" entre eu e os meus três filhos. Ela lhes dizia aonde eu estava, o que e a razão das minhas atividades e sobre os meus sentimentos. Além disso, ela sempre me atualizava, pelo telefone, como eles estavam e eu sempre busquei enviar constantes cartões-postais, sempre endereçado para cada um deles.

Eu sentia que o meu papel era ensinar os meus filhos a viver como seres humanos de forma respeitável e esperava que todos possuísem a força física e espiritual para conduzir qualquer profissão que escolhessem no futuro. Eu somente era bastante severo em um ponto: nunca dizer mentiras. Afora, eu acredito que fui bastante liberal e tolerante.

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Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

Eu percebi que os filhos podem se tornar retraídos, caso seus pais os repreendam constantemente. Geralmente, os filhos estão seguros do amor maternal, tanto que até a bronca por parte da mãe pode ser vista como uma expressão de amor. Em contraste, ser censurado pelo pai é realmente amedrontador. Esta dor e pressão pode até mesmo provocar a rebelião por parte dos filhos. Em particular, eu acredito que ambos os pais dever ser cuidadosos em nunca repreender o filho ao mesmo tempo, pois esta situação pode deixá-los desamparados e com a sensação de estar num beco sem saída.

É fundamental que, não importando o quão ocupado o pai possa estar, deve-se achar algum tempo para conversar e estar junto com seus filhos. Por experiência própria, é um erro pensar que os filhos irão de alguma forma pensar automaticamente que nós os amamos. É necessário esforços conscientes para compartilhar nossos verdadeiros sentimentos e pensamentos com nossos filhos através das palavras, de uma maneira aberta e confortável.

Há diversas formas para se manter a comunicação fluindo, como por exemplo o de Indira Gandhi e seu pai, Jawaharlal Nehru, o primeiro primeiro-ministro da Índia. Ele foi aprisionado por nove vezes durante a luta indiana pela independência, e embora ele estivesse na prisão, Nehru e sua única filha frequentemente trocavam correspondências. Certa vez, Indira escreveu: "Eu sinto tanto a sua falta. Eu mantenho o seu quarto fechado, pois eu odeio entrar lá e vê-lo totalmente vazio e sem vida". Em resposta, Nehru lhe respondeu: "Devo lhe dizer como eu reagi… quando você estava estudando na Suiça ou Inglaterra? Eu mantinha a porta do seu quarto e da minha bem aberta. Todas as manhãs eu ia até o seu quarto e todas as noites eu caminhei até lá para dar boa noite. Eu queria que seu quarto fosse brilhante e arejado…como se você tivesse acabado de sair e fosse retornar a qualquer momento". Após receber esta carta, Indira seguiu o seu conselho e arrumou todo o quarto do seu pai.

Não importa o quão alto sejam as muralhas de separação física, a porta entre os corações entre o pai e a filha estavam sempre abertas.

As dificuldades enfrentadas pelos pais que trabalham para sustentar suas famílias são imensuráveis. Eles têm que lutar em meio a constantes mudanças no plano econômico e exaurem seus cérebros para serem bem-sucedidos no local de serviço em prol da sua família. Mas, as crianças geralmente não tem muitas oportunidade de ver seus pais – em ação – no trabalho. A vasta maioria não faz a mínima idéia do esforço empreendido por seus pais. Assim, tudo o que eles vêem é um figura exausta, que após chegar em casa, somente se espreguiça e vê televisão. Qualquer que seja a responsabilidade imposta por sua carreira, eu acredito que um pai deve se manter firme, enquanto tolera as agruras que a vida nos traz. Assim, ele irá sempre ser o pilar da família.

Eu ouvi uma comovente história sobre uma jovem estudante que tinha vergonha por seu pai trabalhar como rebocador, enquanto os pais de suas amigas usavam terno e gravata para trabalhar. Ela confessou seus sentimentos para sua mãe, que a levou até o local onde seu pai estava trabalhando. Lá, ela viu seu pai sobre o teto de uma obra que crepitava com o calor, mergulhado em suor, mas imerso em seu trabalho. "Observe bem o seu pai que está trabalhando arduamente neste calor", disse sua mãe. Posteriormente, a filha perguntou ao seu pai a razão dele não trabalhar em um escritório, assim ele poderia estar trabalhando sob um local com teto, ao invés de estar sentado sobre ele.

O pai sorriu e disse: "Diferentes tipos de serviço servem para diferentes pessoas. Todos estão dando o melhor de si para viver. Mas, nenhum emprego é tão fácil como parece para um mero observador. Eu estou realmente orgulhoso do meu trabalho. Por favor, não julgue as pessoas por sua aparência".

A garota refletiu sobre este fato e começou a compreender o significado das palavras do seu pai. Ela chegou a conclusão: "Não resta a menor dúvida de que meu pai é o melhor do mundo. Eu vou ser como ele e seja o que for eu darei o melhor de mim".

Pais – e mães – que estão imbuídos do orgulho por suas vidas, não importando o caminho que escolheram e que enfrentam cada desafio com confiança e altivez – deixam um verdadeiro e inestimável legado para seus filhos.

Fonte: Mirror Weekly, 20 de julho de 1998

Preciosa Colaboração de Charles Chigusa
e-mail: chigusacharles@hotmail.com

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