Relato de Experiência
Arlete da Costa Gomes
Arlete
da Costa Gomes é membro da SGI dos Países Baixos da Europa. Há 8 anos foi informada que
estava prestes a morrer.
O PRIVILÉGIO DA VIDA
Eu
tenho 35 anos de idade. Nasci em Curaçao, uma ilha holandesa no Caribe. Há 16 anos moro
na Europa. Na Holanda vivo há quase 3 anos.
Encontrei
o budismo de Nitiren Daishonin na Itália há 6 anos. Nessa época a minha vida tinha
perdido completamente o sentido, havia caído na mais profunda escuridão e sofrimento,
pois os médicos haviam me informado que estava morrendo de AIDS. Pela primeira vez na
vida me encontrava numa situação sobre a qual não podia exercer nenhum controle.
A morte
era a coisa que eu mais temia e ela estava pairando sobre a minha pessoa como uma nuvem
negra e pesada, penetrando-me por toda parte, tirando-me todo o direito de viver
livremente. A princípio não entendia a causa daquilo que estava acontecendo, pois até
então vivi uma vida decente e com moral. Eu era uma pessoa que estava sempre pronta a
ajudar se alguém estivesse necessitando.
O
vírus da doença havia sido transmitido sexualmente pelo homem com quem eu vivia na
Itália. Era um homem que havia sido viciado em heroína mas, há três anos, tinha se
recuperado do vício e estava muito bem empregado como desenhista gráfico, dedicando-se
inteiramente ao trabalho. Ele era uma pessoa sensível e inocente. Na época que nos
conhecemos a AIDS ainda não era muito divulgada.
Antes
de iniciarmos o nosso relacionamento, pedi a ele que fizesse um exame de sangue devido à
sua vida passada e ele concordou imediatamente, porém, o hospital se recusou a realizar o
exame, alegando que ele tinha sido viciado antes do surgimento do vírus da AIDS.
Cinco
meses depois disso fui informada que havia sido contaminada e algumas semanas após, o
vírus se tornou conhecido publicamente. Haviam encontrado sangue congelado desde 1956 que
estava contaminado com o vírus da AIDS.
Disseram-me
que eu era apenas uma vítima infeliz e sem sorte. Fiquei sozinha e obrigada a encarar um
problema tão grande.
Os dois
anos antes de conhecer o budismo foram anos de incessantes sofrimentos, indescritíveis,
pois não existem palavras que possam expressar o tamanho da minha dor e vergonha. Para
piorar a situação, esse meu namorado havia voltado ao vício da heroína e me pediu
ajuda.
Sem
nenhuma experiência com drogas, não sabia o que fazer. Então fiz a pior coisa que um
ser humano pode fazer: desisti completamente de lutar pela minha vida e dediquei-me
somente ao meu namorado. Ele tornou-se o meu objeto de adoração e eu queria ser sua
servidora. Estava tão ansiosa em servi-lo que não me preocupava mais comigo. Havia
entregado a minha vida a esse namorado e comecei a vegetar.
Logo
cheguei a uma situação de não poder andar além de 3 ou 4 passos. Comecei a perder peso
e os sintomas da AIDS cresceram. Era uma dificuldade incalculável conviver com uma
doença incurável. Os médicos diziam que, se eu tivesse sorte, poderia viver por mais 1
ano. Psicologicamente arrasada, comecei a perder a memória e cheguei a pensar que a morte
era a maneira mais fácil de me livrar daquele pesadelo.
Eu
levei quase um ano para contar à minha família a respeito da doença. Os europeus
reagiram muito cruelmente com relação às pessoas portadoras do vírus da AIDS. Seriam
ainda mais cruéis por eu ser uma pessoa nascida numa ilha. De certa forma a minha
família reagiu bem, porém ninguém mais de Curaçao deveria ser informada de minha
doença.
Nessa
época, a minha energia vital era menos que nada, havia perdido 99% dela, mas com o pouco
que restava, entrei em contato com um ex-namorado e pedi-lhe ajuda. Não o via há dois
anos, e por isso levei 3 semanas para encontrá-lo. Ele não sabia que eu estava de volta
à Itália.
Ouvindo
a minha história e meu pedido de socorro, falou-me a respeito do Daimoku. Era uma
situação irônica, pois ele foi o único homem a quem magoei intencionalmente e agora
estava me ajudando, ensinando-me o NAM MYOHO RENGUE KYO.
Desde
que o deixei, dois anos passados, estava praticando o budismo. A partir de então iniciei
a minha prática. Nos seis primeiros meses, Não tinha forças para recitar o Daimoku,
não queria nem mesmo viver. Nessas condições, fui convidada a participar de um
"CURSO DE VERÃO" Budista.
Durante
o Gongyo comecei a sentir um desejo enorme de viver a qualquer custo. Naquele momento, foi
como um avião levantando vôo. Levantei-me. Meu Daimoku foi crescendo, crescendo, de 15
minutos para 5 horas diárias. Após três meses, criei coragem para abandonar meu
namorado. Já havia tentado três vezes sem sucesso, pois ele sempre me ameaçava, dizendo
que se entregaria totalmente às drogas e se morresse seria minha culpa.
A
recitação do Daimoku deu-me sabedoria para entender que a minha visão de piedade estava
distorcida. Entendi que cada pessoa deve responsabilizar-se por si próprio e seguir em
frente, caso contrário toda ajuda do mundo não a fará feliz. Em um ano estaria morta,
segundo os médicos, mas consegui recuperar-me a ponto de andar sem sentir fadiga.
De
acordo com o Gosho "A ESTRATÉGIA DO SUTRA DE LÓTUS", "Então ele
finalmente atacaram você. Dependerá de sua alegria, prudência e coragem tanto quanto de
sua firme fé no Sutra de Lótus farão com que você sobreviva ileso". Esta frase
escrita por Nitiren Daishonin encorajou-me fortemente.
Meu
carma havia me atacado como um inimigo. Somente recitando Daimoku é que pude recuperar
minha coragem, auto confiança e vontade de viver. Aumentei meu Daimoku para 13 horas
diárias, que durou por 8 meses consecutivos. Recebi muita ajuda da dirigente da Divisão
das Senhoras que organizava para recitarmos Daimoku junto com outras senhoras, todos os
dias, para lutar contra esse meu carma tão pesado.
Foi um
experiência muito dolorosa. Quando uma pessoa recita uma quantidade de Daimoku tão
grande como esta, muitos outros carmas começam a se manifestar. Eu estava crescendo muito
rápido, mas não era tão prazeroso para mim. Chaguei a pensar, muitas vezes, que não
havia fim para os meus sofrimentos. Sentia-me incapaz de absorver todas aquelas mudanças
no meu interior. Cheguei a sentir-me uma estranha em minha própria vida.
As
pessoas reagiram de maneira negativa a todas estas mudanças drásticas em minha vida e
tornaram-se ciumentas e achavam que eu queria ser melhor que todos. Outras ficaram com
raiva, pensando que estavam sendo deixadas para trás. Tudo isso me magoava muito, mas eu
sabia que não teria outra chance, seria agora ou nunca mais.
Muitas
vezes me sentia só. Percebia que as pessoas ao meu redor podiam levar uma vida mais
fácil, aproveitando-se dela. É tudo muito diferente quando se tem que transformar o
impossível em possível, a morte em prolongamento da vida.
O Sr.
Kaneda, líder da SGI da Itália, orientou-me com a seguinte frase do Gosho: "Somente
a fé é o que realmente importa. Mesmo que Nitiren Daishonin ore fortemente por você, se
você perder a fé, será como tentar por fogo em madeira molhada.". Que eu deveria
usar todas as partes do meu corpo para o Kossen rufu. Algumas vezes perdia minhas forças
e meu Daimoku caía para 5 horas diárias.
Acredito
que esta quantidade de Daimoku é para pessoas com mais experiência e tempo de prática e
para pessoas com carma negativo, como esta doença, incurável e sem chance alguma. Para
poder fazer a prática, com tanto Daimoku, tive um acompanhamento periódico dos altos
dirigentes ou de alguém que pudesse ajudar constantemente quando as coisas se tronavam
muito difíceis. Praticar o Budismo dessa forma é como cortar profundamente com a faca
todo seu carma. Toda a escuridão interior se evidencia forte e dolorosamente.
No
hospital da Itália e também aqui na Holanda, fiquei separada dos demais pacientes com
AIDS. Os médicos imaginavam que eu fazia algo diferente que me ajudava bastante. Eles
não conseguem compreender como uma pessoa destinada a morrer há 6 anos atrás hoje está
mais saudável do que os médicos.
Desde
que iniciei a minha prática, há 6 anos, nunca fiquei doente, nem mesmo uma gripe eu
peguei. Convivi com a AIDS durante 8 anos sem ter tido um a única infecção, o que é
inexplicável para a medicina. Meus médicos sabiam que a minha vida eu a tenho em minhas
mãos e não na mão deles. Estes médicos fizeram o máximo para me ajudar, mas somente
eu poderia transformar esta situação.
No ano
passado foi diagnosticado que eu estava com câncer nas glândulas linfáticas. Fui
avisada que eu teria que fazer uma cirurgia imediatamente para eliminar o tumor e depois
submeter-me à quimioterapia. A quimioterapia para uma pessoa com AIDS é o mesmo que
jogar uma bomba atômica num prédio. Uma pessoa com AIDS não possui o sistema
imunológico em ordem, e a quimioterapia iria eliminar qualquer vestígio de imunidade que
ainda existisse. Para mim, a quimioterapia significava a morte em alguns dias. Mesmo que
eu sobrevivesse, a cirurgia deixaria meu rosto deformado ou paralisado.
Novamente
eu estava me confrontando com o meu carma de doença. Decidi que não desistiria, como há
6 anos atrás eu não desisti. Entendi que essa nova doença estava tentando me fazer
perder a minha fé e auto confiança que levei 5 anos para construir com a prática do
Budismo.
Não
vou desistir e nem sentir medo. Recebi nova orientação de que deveria recitar mais
Daimoku para que a cirurgia fosse adiada e assim poder ter mais tempo para recitar ainda
mais Daimoku. Assim fiz. Alguns dias depois meu médico decidiu não mais fazer a cirurgia
porque eu não tinha mais o câncer.
Depois
fiquei sabendo que o câncer parou de crescer e em alguns dias tornou-se menor e
desapareceu. De qualquer maneira, eu não deixo que isso influencie a minha vida. Não
permito que minha vida seja controlada pela doença, ao contrário, minha vida é que
controla as doenças.
Foi um
caminho muito difícil de trilhar. Tive que ir até as profundezas do meu ser para
compreender que o meu corpo iria se deteriorar e morrer, mas a entidade de minha vida
continuaria vivendo por toda a eternidade. Não me preocupo mais com o tempo, se está
passando rápido ou devagar. O mais importante é que consegui transformar o meu carma e
prolongar a minha vida.
Confio
plenamente no GOHONZON, pois sei muito bem que foi o GOHONZON que me deu a chance de
conseguir esse sucesso. Acredito que esta experiência me fará realizar a minha
revolução humana e completar a minha missão. Hoje, compreendo que a vida não pode ser
para viver por viver ou para as ilusões egocêntricas. Durante estes anos todos consegui
muitos outros benefícios como: transformar o meu carma referente aos homens, não ser
mais explorada psicologicamente por eles, não faço mais deles o meu objeto de
adoração.
Em
1991, depois de uma dolorosa crise com um namorado, decidi que aquilo bastava. Determinei
diante do GOHONZON, naquele dia, que eu me casaria com alguém que me respeitasse e me
aceitasse exatamente como eu sou, um homem que pudesse ficar comigo e dedicar sua vida
toda ao Kossen-Rufu. Encontrei essa pessoa que me encoraja e também dedica sua vida à
prática diária e às atividades. Nós nos casamos numa cerimônia budista em setembro de
1992, apenas três dias antes da minha doença ser exterminada.
Há
pouco mais de dois anos, quando vim morar na Holanda, determinei que iria desbravar a
minha vida profissional e ser o que sempre sonhei ser, uma pintora e não fazer nada além
de pintar. Nestes dois anos, realizei mais de 8 exposições, duas delas numa Galeria.
Normalmente um artista tem uma ou duas exposições por ano.
Também
consegui dinheiro suficiente para realizar mais um dos meus sonhos. Comprar uma casa na
floresta. Esta casa é dedicada ao GOHONZON, é onde são realizadas as atividades da SGI
do Norte da Holanda.
Meu pai
tem 80 anos de idade e começou a praticar o Budismo de Nitiren Daishonin há 2 anos. É
Chefe da Divisão dos Adultos de CURAÇAO e já recebeu o seu próprio GOHONZON.
Atualmente
já não é mais importante saber se estou doente ou não. Eu tenho a minha vida em minhas
mãos, por isso sou totalmente feliz. Determinei viver minha vida em um estado bastante
elevado, com um único objetivo em mente, o Kossen-Rufu.
Relatarei
sobre esta minha experiência a todos que quiserem ouví-la, para que possam ganhar mais
coragem para a revolução humana de cada um. Nascer como um ser humano é um privilégio.
E, de acordo com Nitiren Daishonin, "não há felicidade maior para o ser humano do
que recitar o NAM-MYOHO-RENGUE-KYO".
Eu continuarei fazendo exatamente isso
o resto de minha vida.
As Mais Belas Histórias
Budistas
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