Meu nome é Vânia Marli Yamaguchi
Menezes. Minha mãe iniciou a prática budista em 1976, devido a desarmonia
familiar. Na época, eu contava com 5 anos de idade e minha irmã, com três,
sendo que constantemente presenciarmos meu pai agredir fisicamente a minha
mãe. Assim, através do daimoku, ela adquiriu forças para transformar o
nosso sofrimento. Após alguns anos, já separada, casou-se novamente com uma
pessoa maravilhosa.
Junto com a minha irmã, participava
em inúmeras atividades para crianças, que era denominado de Grupo 2001, onde
aprendermos sobre o budismo e foi através deste treinamento que pude
enfrentar as dificuldades da adolescência e juventude, com coragem e alegria.
Em 1987, conheci o meu marido, nos
ensaios de um festival da BSGI. Ele é fukushi, ou seja, sua mãe já
praticava o budismo quando ele nasceu. Após dois anos de namoro, nos casamos
e tivemos nosso primeiro filho. Logo, surgiram os primeiros obstáculos, quer
pelas dificuldades financeiras, quer pela desarmonia familiar. Eu desafiava na
recitação do daimoku e nas atividades, decidida a transformar o carma
negativo de nossa família, sem jamais desanimar.
Após alguns anos, decidi apoiar meu
marido em sua decisão de vir trabalhar no Japão. Começamos a procurar
diversas agências em São Paulo, mas somente havia vagas para casais sem
filhos. Assim, tivemos que decidir deixar nossas crianças com os avós. Diego,
com sete e Letícia, com um ano e meio. Mas, decidimos que eu voltaria para
buscá-los no prazo de 6 meses. Assim, desembarcamos na província de Ishikawa,
e no prazo de quatro meses, conseguimos pagar nossas dívidas no Brasil,
nossas passagens financiadas e o objetivo de buscar nossos filhos.
Passados dois dias do meu regresso ao
Japão, comecei a sentir fortes dores na virilha do lado esquerdo. Fui ao
médico, mas após tomar a medicação indicada, a minha perna esquerda
começou a ficar vermelha e inchada. O tornozelo ficou quase da mesma largura
que a coxa. Neste período, o meu marido precisou parar de trabalhar para
ficar com as crianças e eu fiquei internada em um hospital distante, duas
horas de trem da minha residência.
Fiquei sozinha, sem falar o idioma
japonês e não sabendo a causa do meu inchaço. Apenas recitava o daimoku
constante para que pudesse ser vitoriosa e cumprir a minha missão. Após
vários exames, foi diagnosticado que a veia principal que percorre todo o
corpo, estava entupida na altura da virilha. Apesar disto, os médicos ficaram
surpresos em contactar que o sangue retido, começou a correr naturalmente
pelas veias secundárias. Desta forma, a intervenção cirúrgica não se
mostrou necessária.
Na província de Ishikawa, não havia
reuniões em português, mas mesmo sem compreender o idioma, participava com
outros brasileiros, nas reuniões da organização japonesa, onde recitávamos
o daimoku. Após um ano e meio, a convite de minha irmã e cunhado que
residiam na província de Kanagawa, mudamos para a cidade de Yokohama, onde
realizamos o sonho de participar e contribuir nas atividades do Grupo
Esperança, voltado para os membros de língua portuguesa.
Decidi arranjar um emprego, mas
exigiam que minha filha estivesse em alguma creche e quando ia procurar alguma
vaga nas creches locais, exigiam que eu estivesse trabalhando. Como iria
fazer? Nesta intensa luta de daimoku, lembrei-me da frase das Escrituras de
Nitiren: "Não há oração sem resposta". Nesta ocasião, uma
intérprete japonesa conseguiu uma entrevista numa creche particular e
finalmente, consegui uma vaga para minha filha, mas com um prazo de dois meses
para conseguir um emprego. Devido a minha não-fluência no japonês, não
consegui nenhum emprego e fui falar com a diretora para tirar minha filha da
creche. Qual foi a minha surpresa quando ela me convidou para trabalhar na
cozinha local ! Voltei para casa rindo e falando sozinha, pois não conseguia
imaginar um emprego melhor do que este. Posteriormente, fiquei sabendo que a
diretora também era membro da Soka Gakkai, como cerca de 80% do corpo
docente.
Mas, como as dificuldades sempre
surgem, eu comecei a trabalhar junto com um japonesa recém-formada e com um
gênio terrível, pois tudo tinha que ser feito da maneira dela. Nada que eu
fazia estava certo, mas também não explicava como era para ser feito. Ela
era do tipo de pessoa que logo se irrita, grita e não ouve o que temos a
dizer.
Esta situação foi piorando de mês
a mês e a diretora, percebendo toda a situação, me aconselhou a retrucar,
mesmo que em português, pois, caso contrário, ela o faria. Neste momento,
refleti que sempre incentivei as minhas amigas a não desistirem do emprego
por causa de desavenças ou mau-trato e agora eu iria desistir ? Assim,
comecei a recitar o daimoku, decidida a não sofrer mais. Orei pela felicidade
dela e para que houvesse respeito a partir de agora e munida de coragem,
decidi conversar com ela.
A partir de então, todas as
ocasiões que ela agia de forma agressiva, eu reagia da mesma forma polida e
educada de antes. Entretanto, percebi que, gradualmente, ela começava a me
escutar, gerando um entendimento mútuo. Ambas mudamos e nos tornamos amigas e
no meu último dia de trabalho, senti com toda alegria, que havia obtido a
vitória. Após esta experiência me tornei uma pessoa muito mais forte.
Nestes quatro anos de Japão, passei
por diversos obstáculos, mas as conquistas foram muito maiores e a harmonia
familiar foi a maior delas.
Pensando no futuro, eu decidi voltar
com os meus filhos ao Brasil para que eles pudessem dar continuidade nos
estudos, enquanto o meu marido permaneceria no Japão por mais algum tempo.
Apesar de ser uma escolha difícil, decidimos que o ano de 2001 seria um ano
de vitória para nós. Gostaria de agradecer a todos os companheiros do Japão
que me apoiaram neste período, com destaque ao Sr. Miura e ao presidente
Ikeda, pois como sua discípula estarei sempre dedicando minha vida em prol da
felicidade das pessoas. Muito Obrigada !
Preciosa Colaboração de
Charles Tetsuo Chigusa
chigusacharles@hotmail.com Tóquio - Japão