Relato de Experiência
Rosemari Zaruvni Rizzi


Nasci em Curitiba, em uma família que tinha muitas dificuldades financeiras e de relacionamento. Guardo poucas recordações da minha infância e adolescência. Uma delas não muito agradável é a de que meus pais muitas vezes deixaram de comer para sobrar comida para eu e meus irmãos. Muitas vezes para que pudéssemos ter carne na mesa, minha mãe comprava sobras em uma churrascaria perto da nossa casa.

Aos doze anos comecei a trabalhar como babá para poder ajudar nas despesas, aos quatorze parei de estudar, contrariada e fui trabalhar em um supermercado.

Neste mesmo supermercado, aos dezesseis anos, em 15/12/80 conheci um rapaz pelo qual me apaixonei e casamos um ano depois. Com cinco anos de casados já tínhamos nossos três filhos. Enfrentamos muita dificuldades financeiras e desarmonia com os meus familiares. Meus filhos tinham muitos problemas de saúde e o meu marido também contraiu tuberculose.

Em 1991 chegamos ao caos, logo após eu ter pedido demissão do meu emprego, para poder cuidar melhor das crianças, meu marido foi demitido. Desesperados aceitamos o convite para morarmos mais perto dos familiares dele, no Rio Grande do Sul. Assim, em junho de 1991, ele foi embora para Novo Hamburgo, em busca de trabalho e casa.

Em julho do mesmo ano ele conheceu o budismo de Nitiren Daishonin e começou a recitar Daimoku. Com muita fé em menos de um mês ele conseguiu um excelente trabalho e casa, e veio nos buscar.

Em setembro de 1991, devido à problemas no trabalho do meu marido, incentivada por uma pessoa maravilhosa, Josilda, comecei a recitar também. Recitei por um ano, sem ter nenhum contato com a organização, pois como era nova na cidade não conhecia ninguém e não sabia como participar das atividades. Recebi benefícios incontáveis, entre eles a saúde dos meus filhos, que dura até hoje. Senti necessidade de participar das reuniões e na primeira que participei ouvi o relato de uma moça que falava sobre como conseguiu realizar o seu grande objetivo que era de cursar uma faculdade, fiquei muito impressionada, pois este era exatamente o meu sonho reprimido.

Fomos acolhidos pelos responsáveis e membros da cidade de Novo Hamburgo como se fossemos da família e ali formamos nossa base pela luta em prol do kossen-rufu.

Em julho de 1993, apesar de não estudar há onze anos, prestei vestibular com a cara, a coragem, sem dinheiro, mas com muito daimoku e fui aprovada. Neste mesmo ano consegui uma bolsa do governo para custear 80% dos meus estudos.

Em 1995 meu marido recebeu uma excelente proposta de emprego em Caxias do Sul, região serrana, e em dezembro deste mesmo ano mudamos para lá. Nesta cidade tivemos oportunidade de aprender a verdadeira luta pelo kossen-rufu ao lado de pessoas maravilhosas como a Rosalina, o Orlando e a Margarida.

Em 1997, mais uma vez o carma de emprego do meu marido se manifestou e ele foi demitido, mas desafiou ser um grande valor para o kossen rufu e transformou o carma. Começou a trabalhar em uma empresa, que no final de 1998, resolveu abrir uma filial em Curitiba e o diretor, sabendo que já havíamos morado na cidade, convidou meu marido para trabalhar na nova filial.

Fiquei apavorada, pois não queria voltar para o lugar onde presenciei tanto sofrimento, desesperada pedi orientações para a Margarida que me disse o seguinte: "Fugir dos problemas não é solução eles estarão sempre nos acompanhando, temos que transformá-los no local onde estamos para que sejamos felizes, e você já fugiu diversas vezes." Decidimos aceitar e voltar para Curitiba, assumi com ela o compromisso de nunca nos afastarmos da organização e da prática da fé. Senti muito por ter que deixar meus companheiros em Caxias do Sul.

Mudamos para Curitiba em 16/02/1999, tivemos a boa sorte de pertencer à Comunidade Pinheirinho e poder contar com o casal de responsáveis Selma e Luís Stocco, grandes exemplos de luta.

Tudo o que eu temia não tardou muito para acontecer. Mudamos para os fundos da casa de minha mãe, as condições eram precárias, as dificuldades financeiras começaram a aparecer.

O pior de tudo foram as desavenças com os meus familiares, principalmente com minha mãe. Depois de uma briga feia entre nós, chorando me sentei em frente ao Gohonzon e pedi perdão, pois o sentimento que me assolava naquele momento era como se ela tivesse morrido dentro do meu coração, jamais quero sentir isto novamente.

Logo que chegamos à Curitiba, comecei a participar do Coral Esperança da Divisão das Senhoras, sentia grande alegria quando estava cantando.

Após lançarmos o objetivo de oferecer nossa casa para o kossen-rufu e de termos um local digno para consagrar o Gohonzon, a situação começou a melhorar. Mudamos para uma casa melhor, meu marido foi promovido e começou a ganhar mais e meu filho conseguiu um excelente estágio.

Na última reunião do ano de 1999, fui convidada a fazer um relato de decisão da divisão das senhoras da minha Comunidade. Assumi a responsabilidade de lutar junto com todas as companheiras pelo crescimento da comunidade e pela felicidade de cada um dos membros.

Lutamos, incansavelmente, juntamente com todos os membros da organização pelo sucesso do Encontro Nacional do Grupo Alvorada, em Curitiba e também pela grandiosa reunião do dia 28 de maio, realizada no Centro de Convenções.

No início do ano estava fazendo estágio em uma empresa e não me sentia feliz, trabalhava muito, ganhava pouco e o ambiente de trabalho era muito ruim. Apesar das dificuldades financeiras que enfrentávamos, pedi demissão e saí no dia 31 de janeiro deste ano. Lancei objetivo de desafiar nas atividades e na recitação de daimoku.

Após participar de uma reunião de estudo do Gosho, em fevereiro deste ano, desafiei recitar 10 horas de daimoku, toda quinta-feira, na Sede Regional.

Apesar de estar com muita dor na coluna, devido a uma hérnia de disco, e não Ter dinheiro para comprar remédio comecei o desafio de recitar 10 horas de daimoku todas as quintas feiras para transformar todos os obstáculos, principalmente a desarmonia familiar e dificuldades financeiras. Neste mesmo mês fui indicada para participar da grande escola de valores humanos.

Começaram os ensaios para os festivais do grupo alvorada e logo depois para o dia 28 de maio, participamos de todas os ensaios muitas vezes tendo que dividir o lanche por falta de dinheiro.

Diversas vezes para poder participar do daimoku e das atividades dos ensaios, eu pegava vt emprestado com meu filho, para poder comprar pão e leite e deixar em casa para eles comerem. Nos dias em que recitava as 10 horas de daimoku aqui na Sede, vendia vt e comprava um pastel, era com isto que eu passava o dia todo.

Em meados de maio deste ano, eu e meu marido fomos convidados para sermos responsáveis pela Comunidade Pinheirinho. Tínhamos o grande compromisso de continuar o trabalho iniciado pelo casal Stocco.

Fiquei indecisa ao aceitar o cargo pois eu e meu marido, há algum tempo estávamos atravessando problemas sérios de relacionamento e pensei em como iria incentivar os membros a transformar seus problemas se eu mesma ainda não tinha conseguido e me sentia infeliz.

Cheguei à conclusão que deveria recitar mais daimoku, além das 10 horas semanais, e me empenhar nas visitas familiares.

Enfrentei grandes problemas, o meu casamento estava desmoronando, meus filhos estavam perdendo o respeito pelo pai, meu marido já não sentia mais vontade de retornar para casa. Já não se preocupava mais com a família, somente com o trabalho, ficava até altas horas da madrugada em companhia dos amigos e quando chegava em casa, eu o provocava até que discutíamos e brigávamos.

Eu já estava me preparando para uma separação, não conseguia entender porque estava sofrendo tanto assim. Muitas vezes, quando meu marido demorava para retornar para casa, eu desejava que se ele estivesse fazendo algo errado, que desse uma dor de barriga muito grande e ele não conseguisse sair do lugar, mas a lei de causa e efeito é para todos, e quem passava a noite no banheiro era eu.

Em muitas ocasiões, desesperada, eu achava que a única solução seria que ele morresse, somente assim eu seria feliz.

Passei muitas madrugadas em frente ao Gohonzon, chorando e recitando daimoku para transformar a situação. Até que numa dessas madrugadas o meu desespero era tão grande que após me acalmar um pouco procurei ansiosamente por uma resposta nas Escrituras de Nitiren Daishonin e por acaso abri o livro no Gosho Carta aos Irmãos, justamente na página que diz o seguinte:

"As mulheres estão numa posição de seguir e, ao mesmo tempo, de guiar os outros. Quando seu marido é feliz, a esposa será realizada. Se seu marido é um ladrão, ela se tornará uma também. Isto não é um assunto somente desta existência. Um marido e sua esposa são tão íntimos como um corpo e sua sombra, as flores e seus frutos, ou as raízes e sua folhas em cada existência da vida. Os insetos comem as árvores em que vivem, e os peixes bebem da água em que nadam. Se a grama murcha, as orquídeas sofrem, e se os pinheiros prosperam, os carvalhos exultam. Mesmo as árvores e as gramas estão intimamene relacionadas. Hiyoku é um pássaro com um corpo e duas cabeças. As sua bocas nutrem o mesmo corpo. Hihoku são peixes com somente um olho cada um, e assim, o macho e a fêmea permanecem juntos por toda a vida. Isto é que é ser marido e mulher."

Que ironia, eu procurava um consolo e encontrei a resposta. A partir deste momento mudei o direcionamento das minhas orações e comecei a recitar pela felicidade do meu marido, mesmo que não fosse ao meu lado. Passei a entender que o carma era meu, uma vez que eu era quem sofria desde criança com o relacionamento dos meus pais e comecei a pedir perdão ao Gohonzon e ao meu marido por todo sofrimento que causei a ele em outras existências.

Quando eu menos esperava meu marido teve um problema sério de saúde, que o fez repensar sobre suas atitudes e retornar ao convívio familiar. E desde então nosso relacionamento familiar e conjugal mudou e hoje somos uma família muito feliz, lutando juntos para manter esta harmonia.

Neste ano além deste benefício recebi outros igualmente grandes.

Apesar de ter tirado minha carteira de motorista no ano passado eu tremia toda e ficava apavorada, chegando a suar frio só em pensar que precisava dirigir até algum lugar, inventava mil desculpas para não ter que pegar o carro. Entre os meus objetivos, lancei o de ser uma excelente motorista e superar o meu medo. Depois de ter superado e não sentir mais medo, um dia vi uma reportagem na TV sobre a síndrome do pânico de direção, e a única maneira de superá-la seria com tratamento psicológico, eu consegui graças a recitação do daimoku.

Enfrentei grandes desafios este ano para conciliar casa, faculdade, filhos, marido, trabalho, atividades, coral, e recitação de daimoku, mesmo assim fui aprovada em dois concursos públicos e na semana passada assinei contrato em um deles. Como objetivei vou começar a trabalhar dia 11 de janeiro, pelo salário que tracei e no horário que determinei, o que me proporcionará tempo para cuidar da casa e das atividades pelo kossen rufu. Foram inúmeros benefícios, desde fazer a matrícula na faculdade estando inadimplente, até fazer parte da formatura.

O meu grande sonho reprimido, tornou-se uma realidade nesta semana com a defesa da monografia perante uma banca examinadora. A monografia foi dedicada a Sensei e nela está escrito o seguinte poema dele, que me deu forças para prosseguir:

"Sonhar mesmo que seja impossível
Lutar mesmo que o inimigo seja invencível
Suportar a dor, mesmo que seja insuportável
Correr, mesmo onde o bravo não ouse ir
Transformar no bem o que é mal, mesmo que o caminho seja de mil milhas
Amar o puro e o inocente, mesmo que seja insistente
Persistir, mesmo quando o corpo não mais resista
E, afinal, tocar aquela estrela, mesmo que seja impossível."

A Comunidade têm obtido um grande sucesso e crescimento em todas as atividades com o surgimento de grandes valores humanos.

Meus filhos Diogo (17 anos), Mariana (14 anos) e Bruna (13 anos) são maravilhosos, pois cresceram dentro da organização. Todos atuam em grupos horizontais: Sokahan, Cerejeira e Kotekitai. Meu marido participa do grupo Alvorada e me dá todo o apoio nas atividades.

As dificuldades estão sendo vencidas dia-a-dia, mas o mais importante é que hoje já consegui sentir novamente o grande amor que sentia pela minha mãe, levando-a em atividades sempre que possível. Consegui vencer minha depressão, apatia e traçar novamente objetivos de vida.

Tenho muito a transformar e principalmente fazer a minha revolução humana. As forças que preciso encontro diariamente na recitação do daimoku, do gongyo, nas atividades realizadas e na leitura do Gosho "A Felicidade neste Mundo":

Sofra o que tiver que sofrer. Desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida, e continue orando o Nam-myoho-rengue-kyo, não obstante o que aconteça. Então experimentará a infinita alegria da Lei. Fortaleça sua fé mais do que nunca.

Muito obrigado por, eu e minha família, pertencermos à esta maravilhosa organização, muito obrigado por eu ter compreendido o que é o verdadeiro espiríto de mestre e discípulo, por ter entendido que somente o daimoku é capaz de transformar as coisas impossíveis.

Obrigado por termos Sensei como nosso mestre de vida, muito obrigado pelo apoio de todos os companheiros.

Muito obrigado pela imensa felicidade que estou sentindo juntamente com meu marido e meus filhos.

Sensei hoje desafio a lutar, pelo resto dos meus dias, em prol do kossen rufu e da felicidade de todas as pessoas.

Mestre conte comigo.

Preciosa Colaboração de
Rosemari Zaruvni Rizzi - Curitiba - Paraná
zrizzi@ig.com.br 

 

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