Relato de Experiência
Relato de Experiência
Victorine Eke
Phoenix, Estados Unidos


Tenho 49 anos, a minha mãe faleceu aos 28 anos, quando eu tinha 11 anos e fui criada pela minha avó em condições bem modestas em Douala, capital da República dos Camarões.

Quando estava com 16 anos, fiquei doente e perdi o uso das minhas pernas por mais de dois anos. Eu me recuperei, obtive um diploma de segundo grau, entrei na faculdade e consegui um bom emprego. Nos próximos 15 anos, eu obtive ótimos cargos nas melhores empresas. E na minha família, eu era como uma lanterna na escuridão. Eu costumava ajudar a todos, mesmo pessoas totalmente estranhas. Entretanto, eu não sabia que esta era uma felicidade temporária. A minha situação mudou quando contrataram um novo chefe, que me tratava de forma extremamente ofensiva. Nesta época, eu estava sozinha, com as minhas filhas, Stephanie e Clara.

A vida em 1990, era como em muitos países africanos. A democracia era uma experiência política desconhecida por muitos políticos africanos. Havia uma guerra entre os partidários do governo e a oposição. As lutas se tornaram mais acentuadas na capital, Douala, e eu pertencia ao partido da oposição.

O exército começou a aterrorizar as pessoas. Eu sabia que estava em perigo, mas não sabia quando, onde ou como algo de ruim, iria acontecer para mim. Eu recebia muitas ameaças de morte, caso eu continuasse no movimento, mas eu pensava que eles somente queriam me amedrontar para que eu mudasse de posição. Infelizmente, eu estava errada.

Em março de 1994, eu estava dormindo em minha casa com minhas filhas, quando alguém tentou incendiá-la. Os nossos vizinhos nos socorreram, e buscamos refúgio na casa da minha melhor amiga por alguns dias. Quando as crianças voltaram ao colégio, eu ficava aflita que alguém as estaria seguindo e a nossa segurança estivesse em perigo novamente. Não podendo viver com medo, eu decidi deixar o país.

O dia 2 de abril de 1994 foi um dos piores momentos da minha vida. Eu sentia como se estivesse sendo tragada por um grande buraco negro. Eu beijei e me despedi de todos e parti num ônibus para a África Ocidental. Quando eu cruzei a fronteira dos Camarões com a Nigéria, eu sentia que o meu coração estava morto. Tudo estava escuro e mesmo a minha visão interior estava nublada.

Quando eu cheguei em Cotonou, em Benin, eu fui para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados para me registrar como asilada política. Não foi fácil, pois tive que provar que eu não estaria mais segura no meu país de origem. Em setembro de 1995, após um ano de árduas negociações, eu recebi o registro de asilada política.

A adaptação em Benin foi difícil, apesar de ambos os países usarem o francês como língua principal. Todos os dias, eu lutava para sobreviver, lutando para encontrar um emprego. Em 1995, quando as minhas filhas se juntaram a mim; o amor, sorrisos e incentivos delas foram como a luz do Sol. Pouco tempo depois, um parente me ajudou a abrir um restaurante e minha primogênita, Stephanie, se formou no segundo grau.

Eu encontrei pela primeira vez com a doutora Solange Kouo Epa no meu restaurante. A nossa conversa foi breve, mas sincera. Ela me pediu para encontrá-la em um dos meus dias livres para me apresentar ao budismo de Nitiren. Ela me ensinou a ler o sutra e recitar o Nam-myoho-rengue-kyo. Após um mês, já era capaz de fazer sozinha e dentro de mim sentia algo diferente. Eu estava obtendo o que precisava, como a terra que é irrigada no verão. O vazio no meu coração estava sendo coberto. Quando eu recitava o daimoku, meu medo diminuia, a minha auto-confiança crescia e a minha mente era inundada por pensamentos positivos. Após um ano, eu recebi o Gohonzon.

Um ano antes de iniciar a prática, eu havia apelado junto ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, para ser transferida a um terceiro país. A resposta sempre foi negativa. Após iniciar a minha prática, comecei a focalizar as minhas orações neste objetivo. Um dos diretores marcou uma entrevista para uma semana depois e quando retornei, ela me pareceu diferente, tratando-me com muito respeito e prometendo me ajudar.

Fui numa entrevista marcada com os responsáveis do setor de transferência, mas devido a ausência de minha filha não foi possível o meu registro. Eu fiquei arrasada, mas recusei-me a desistir. Quatro meses depois, a minha família foi qualificada para se estabelecer nos Estados Unidos. Eu orei para que tivesse uma ótima viagem, assim como felicidade, sabedoria e saúde em meu novo país.

Somente tive cinco dias para me preparar para a viagem e junto com os meus companheiros de Benin, oramos todos os dias para uma ótima viagem. Embarquei num avião do governo americano e após três dias aterrisamos na cidade de Phoenix, onde fomos encaminhadas para o nosso novo apartamento.

Uma das minhas primeiras ações foi entrar em contato com a Soka Gakkai local, onde fui recebida de braços abertos. Eu comecei a trabalhar como governanta num hotel, mas era um emprego bastante árduo. Assim, comecei a recitar o daimoku para conseguir um emprego melhor. Logo, estava num serviço temporário no aeroporto e preenchendo fichas de emprego em todos os lugares.

Nesta época, comecei a sentir dores no meu seio esquerdo e ficava cansada facilmente. Em agosto de 2000, um médico me enviou para um especialista e quando os testes revelaram câncer nos seios, uma onda de pânico inundou meu ser por alguns minutos. Logo, eu focalizei em como ultrapassar este novo desafio. O médico marcou uma biopsia para setembro.

As minhas filhas me perguntaram se eu realmente havia compreendido o que o médico havia me dito (pois o meu inglês era até então difícil para mim). Eu respondi: “Sim. Isto não é um problema. As pessoas morrem de Malária em Camarões, porque não há medicamentos. O ato de ficar doente aqui significa que sou capaz de ficar saudável. Há muitos tratamentos aqui. Tudo vai dar certo.” Acima de tudo, eu sabia que o Nam-myoho-rengue-kyo é o primeiro e o melhor médico.

Eu continuei recitando para encontrar o melhor tratamento, mas em minha mente, eu já estava curada. Como Nitiren Daishonin escreveu: “O Nam-myoho-rengue-kyo é como um rugido de leão. Que doença pode ser um obstáculo ?” Eu me sentia protegida e com um desejo férreo, eu recitava pela minha recuperação.

Após dois tumores serem removidos, eu lia tudo o que pudesse encontrar nas escrituras de Nitiren sobre doença, na qual me fortalecesse. Eu não estava com medo, eu escolhi transformar esta doença. Um pouco antes da minha cirurgia, eu havia sido chamada para trabalhar num escritório de advocacia. No final da entrevista, eu disse ao recrutador sobre a minha doença e que iria iniciar meu tratamento em outubro. Para minha surpresa, ela me disse que poderia começar assim que me recuperasse da cirurgia. Meu novo emprego é perto do meu apartamento e tendo os finais de semana livre, eu posso participar das atividades da Soka Gakkai.

A quimioterapia foi a parte mais difícil do tratamento. Eu perdi todo o meu cabelo e após a última sessão, eu estava tão fraca que não pude recitar o daimoku por uma semana, mas eu ouvia a gravação do gongyo. Eu escolhi controlar a doença, e não ser controlada por ela. Quando me sentia cansada, eu permanecia em casa, mas caso contrário, trabalhava o período integral.

Embora o raio-X não tenha mostrado nenhum dano da quimioterapia, o oncologista percebeu outra massa e solicitou para um cirurgião retirar todo o meu seio. Eu e o cirurgião decidimos remover somente o suficiente para uma biopsia no dia 23 de maio de 2001. No dia 31, o cirurgião me disse que não havia traço de câncer. Eu recitei o Nam-myoho-rengue-kyo três vezes em silêncio e agradeci a ele.

Nitiren Daishonin escreveu: “Aqueles que crêem no Sutra de Lótus são como o inverno. O inverno nunca falha em se tornar primavera”. Eu comecei a radiação final no dia 9 de julho, por 35 dias. Logo após, eu me senti melhor, minhas feridas se cicatrizaram, meus cabelos cresceram e eu me senti cada vez mais forte. Tudo entrou nos eixos. Na minha consulta no dia 20 de março de 2002, os médicos estavam exultantes.

Eu não tenho palavras para expressar a minha gratidão aos médicos e enfermeiras que cuidaram de mim. Eu também agradeço a doutora Solange Kouo Epa que me introduziu ao budismo e para todos na África e nos Estados Unidos que me apoiaram quer no daimoku e nas mensagens de incentivo.

A minha maior gratidão é por minhas filhas. Clara tem sido um grande apoio para mim em recitar o gongyo e daimoku e Stephanie, minha primogênita, pelo seu grande amor. Ambas me ajudaram a encontrar esperança e propósito na minha vida.

 Fonte:
World Tribune (SGI-USA), 19 de abril de 2002.
Tradução:
Charles Chigusa

      

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