Relato de Experiência
Paul
Bloc
Fonte:
Living Buddhism, órgão da SGI-USA, Fevereiro de 2004
Tradução: Charles Chigusa
Meu
nome é Paul Bloc. Nasci e cresci feliz na cidade de Suffolk. Quando tinha 14
anos, descobri que era gay. Não havia nada de errado, mas compreendi que a
minha pequena cidade natal não estava preparada para mim e aos 16 anos,
decidi mudar para Londres, com a determinação de me divertir !
Após
seis meses, eu conheci o budismo de Nitiren em Londres. Não me importei na época,
pois pensei que teria de desistir do sexo, álcool, noitadas, etc...para que
pudesse atingir a iluminação ! Mas, depois de oito anos, participei da minha
primeira reunião em novembro de 1992, fiquei abismado com a receptividade por
parte de todos e decidi praticar desde então.
Em
junho de 1992, eu fui diagnosticado como HIV positivo. O meu mundo desabou e
repentinamente me senti desconectado da realidade e das pessoas ao meu redor.
Eu comecei a me isolar e parei de participar das atividades da SGI-United
Kingdom. No meu profundo inferno, larguei meu emprego e voltei para Suffolk.
Não
havia nenhuma ferida visível, mas eu me sentia diferente – e estava prestes
a ter um colapso nervoso. Eu estava enfrentando a minha própria mortalidade e
das pessoas que amava ao meu redor. O único momento que tinha esperança era
quando recitava o Nam-myoho-rengue-kyo – então eu orava horas, inspirado
por uma passagem das escrituras de Nitiren que diz:
...A
jornada de Kamakura até Quioto dura doze dias. Se viajar por onze dias e
desistir quando somente estiver faltando um dia, como poderá desfrutar o luar
da capital ? (WND, 1027)
Logo,
determinei viver e senti em meu coração que esta situação era um agente
positivo que iria ajudar a tornar-me forte novamente. Eu comecei a ver a prova
real quando a esperança e coragem que sentia quando orava, gradualmente começou
a refletir em minha vida diária. Assim, grandes benefícios começaram a
florir.
Um
deles foi minha mãe ter me dado um cachorro de estimação, Joplin. O ato de
cuidar dela ajudou-me a desviar o foco sobre a minha turbulência interior. Além
disto, eu era obrigado a sair diversas vezes da casa por causa dela e acabava
entrando em contato com outras pessoas, ao invés de ficar inerte na minha
sala de estar.
Inspirado
pela passagem da escritura - Carta a Niike - que diz: Não importando o que,
esteja perto daquele que conhece o coração do Sutra de Lótus.
Assim,
eu reiniciei as atividades budistas em Norwich e recebi o Gohonzon em novembro
de 1996. No mesmo período, comecei a ser voluntário numa associação
voltada para HIV positivos em Lowestoft. Eu desfrutei o meu trabalho
imensamente e acabei sendo o presidente da entidade por três anos.
Através
desta experiência, eu desenvolvi a auto-confiança para voltar a trabalhar
numa empresa, algo inimaginável para mim. Logo, mudei para Cambridge e
comecei a trabalhar para outra associação voltada para HIV positivos num
contrato de dois anos, que terminou em Janeiro de 2003.
Quando
este contrato encerrou, me encontrei tendo que lidar com as mesmas
dificuldades e emoções que surgiram no início da minha prática. Novamente,
o meu mundo estava abalado. Eu não podia entender o que estava acontecendo.
Eu pensei que já havia passado o medo da morte, doença e que poderia tirá-los
da minha vida. Eu estava lutando pela
minha
saúde física também e comecei a me isolar novamente, da mesma forma que agi
quando descobri ser soropositivo.
No
caos, eu esqueci de pedir incentivo na fé, na qual geralmente é um impulso
para resolver tais situações.
Em
junho, participei de um curso de aprimoramento para jovens no Centro de
Treinamento da SGI em Trets, na França. Eu realmente lutei para enxergar o
meu estado de Buda. Numa das palestras foi abordado sobre como transformar o
nosso carma em missão e eu não podia ver como poderia fazer isto acontecer.
Eu lembrei de uma orientação do presidente da SGI, Daisaku Ikeda, proferida
no dia 11 de setembro de 2001:
...nós
podemos ainda tornar o século XXI numa era livre das chamas da guerra e violência
– uma era na qual as pessoas possam viver em paz. Para isto, nós devemos
lutar para que prevaleça o espírito de profundo respeito pela vida em nosso
planeta.
Esta
parte da orientação teve um grande impacto em minha vida quando ouvi pela
primeira vez – pois senti uma grandiosa onda de absoluta liberdade emergir
em meu coração, quando compreendi a falta de respeito pela minha própria
vida e daqueles que contaminei com o vírus da AIDS. Neste momento, compreendi
quão crucial é desenvolver um profundo respeito pela vida, com o objetivo de
prevenir a repetição de ações que violem a sua santidade. Em Trets, eu
decidi renovar a minha determinação e iniciei planejando orar a maior parte
do dia para compreender a passagem desta orientação dentro das profundezas
do meu ser. Um veterano da fé pode perceber que eu estava bastante emocionado
enquanto lutava para compreender de forma mais profunda a minha missão e ele
realmente me encorajou neste dia, lendo uma passagem da escritura – Abertura
dos Olhos – que diz:
Isto
eu declaro. Deixei que todos os deuses me abandonem. Deixe que todas as
perseguições me assolem. Ainda assim, eu daria a minha vida em prol da Lei.
(WND, 280)
Eu
decidi utilizar o resto do dia para cravar este grande juramento em minha
vida. Eu orei para desenvolver este profundo respeito por toda a vida e basear
os meus pensamentos, palavras e ações nesta promessa que fiz no infinito
passado. Como que de surpresa, após a minha oração, senti que tanto no
plano físico, espiritual e emocional, eu estava vazio.
Eu
busquei algo nas escrituras de Nitiren, mas não me sentia melhor. Neste
momento, eu não sabia o que fazer para quebrar a minha negatividade. Eu orei,
estudei e agora ?
Nesta
noite, participei de quatro diferentes reuniões de planejamento para
atividades futuras a serem realizadas na Inglaterra. Em cada uma delas, eu
percebi que estava me tornando mais feliz. Era isto ! Ação ! Eu precisava
agir baseado na oração; ação em prol da paz mundial.
Na
manhã seguinte, durante o gongyo, eu compreendi que estava transformando o
meu carma em missão. Eu realmente senti uma vitória real por estar vivo
mesmo após ter sido diagnosticado com o vírus HIV há dez anos atrás e sem
estar sob nenhuma medicação. Eu sinceramente acredito que estou amenizando o
meu carma manifesto através das minhas ações diárias dentro da SGI-UK. Eu
compreendi que estou transformando o meu carma em missão através do trabalho
que tenho feito com as associações assistenciais para soropositivos.
Hoje,
eu estou determinado a continuar nesta luta, trabalhando no continente
africano, onde quero colaborar para amenizar o sofrimento causado pela AIDS.
Eu também compreendi que a maioria das pessoas que apresentei ao budismo estão
vivendo com o vírus HIV e desta forma, estou transformando o meu carma em
missão, também.
Compreendi
em Trets que preciso continuar a agir pela felicidade dos outros. Eu preciso
mostrar para as outras pessoas a verdadeira caridade, através das minhas ações
em ajudá-las a compreender que a absoluta felicidade e liberdade na vida pode
ser obtida através da fé na Lei Mística.
Tenho
uma imensa gratidão por ter a filosofia do budismo de Nitiren Daishonin como
base de tudo que faço, e estou determinado a continuar com a minha fé, prática
e estudo até o fim da minha existência, assim como ser capaz de olhar para a
minha vida sem nenhum arrependimento – tendo dominado a arte de viver uma
vida longa, feliz e realizada.
Fonte:
Art of Living – órgão mensal da SGI-United Kingdom – Novembro de 2003 Tradução:
Charles Chigusa
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