Relato de Experiência
Rosani Nagai


O que vou relatar aqui é um resumo de uma experiência muito triste e comovente, porém a minha intenção não é atrair a sua simpatia ou pena, mas sim, contar-lhes como consegui superar momentos difíceis com a ajuda e o carinho da minha família e parentes, como também através do apoio caloroso dos amigos japoneses e brasileiros da Soka Gakkai. O meu sentimento de gratidão para com todos é imenso.

Meu nome é Rosani Nagai e gostaria de iniciar contando como conheci o budismo de Nitiren Daishonin. Isto foi há muito tempo atrás, quando estava namorando o meu marido, que já era praticante. Não me interessei, porém o nosso casamento teria que ser nos moldes da religião dele. Não gostei da idéia, mas como gostava muito dele, acabei concordando. A partir daí, criei um certo ressentimento, que hoje acho que foi uma bobagem.

Como eu não mostrava nenhum interesse pela prática, o meu marido acabou desanimando. Assim, o tempo foi se passando, até que meu marido decidiu vir trabalhar no Japão, me deixando com cinco filhos pequenos. Após dois anos, em 1991, desembarquei no aeroporto de Narita com todos os filhos. Como o meu marido ainda não tinha conseguido alugar uma casa para nós, na cidade de Chita – onde ele morava – acabamos ficando em Saitama, com meus parentes.

No mês de setembro, fomos surpreendidos por um tufão, que inundou a casa. Perdemos quase tudo, ficando somente com as roupas que estavam dentro das malas. Fiquei profundamente desolada e revoltada. Depois deste triste episódio, finalmente mudamos para a cidade de Chita, onde estamos morando há sete anos.

E foi aqui que novamente ouvi falar sobre o budismo de Nitiren Daishonin e a organização Soka Gakkai. Desta vez, foi através de um senhor japonês que trabalhava comigo. Durante o tempo que trabalhei com ele, pude receber vários incentivos e explicações sobre o objetivo da Soka Gakkai e como queríamos saber muito mais sobre a organização, o meu marido lembrou-se de pedir ajuda a sua irmã, que mora em Hokkaido.

Não medindo esforços, ela veio lá do norte e nos colocou em contato com os membros da comunidade local, onde estamos frequentando até hoje. Mais tarde, conhecemos a Meire Abe, que nos convidou para participar das atividades do grupo de brasileiros – o Grupo Renascença. Vocês não podem imaginar a alegria que senti naquele momento.

Não parece ironia do destino ? Anos atrás, nem queria saber da organização e agora estava emocionada por tê-la encontrada. Então decidi me empenhar com afinco junto com a minha família, orando para que todos se tornassem grandes valores e que contribuíssem para a felicidade das pessoas.

No meio desta grande decisão, recebemos a notícia de que a minha sogra estava muito doente. Meu marido, representando todos os irmãos no Japão, partiu para o Brasil, para cuidar da mãe. Apesar dela estar com mais de 80 anos, ela conseguiu se recuperar rapidamente, com o apoio e orações de todos os familiares.

Depois de dois meses, o meu marido retornou ao Japão e nem havia se passado duas semanas, quando fomos surpreendidos por uma desgraça. Dia 24 de junho de 1998, o pior dia das nossas vidas. Tocaram a campainha da minha casa, avisando-nos que o meu filho Ricardo, de 14 anos, havia se afogado na lagoa perto de casa.

Chocada com a notícia, pedi a minha filha para avisar meu marido e chamar os bombeiros. Depois caí no desespero, corri até a lagoa e aos gritos, chamava e implorava para que o meu filho não nos abandonasse. Mas, o silêncio era a única resposta. Somente se via o caiaque boiando, depois de ter virado com o meu filho. O seu corpo foi encontrado após uma hora e meia de buscas, que para mim foi com a eternidade.

Uma senhora ao meu lado, me incentivou para que orasse com todas as força, mas eu queria saber onde encontrar essa força, pois eu não queria saber de mais nada. Cheguei até mesmo a pensar em morrer.

Quando o meu marido ligou do hospital, cheguei até a sonhar, cheia de esperança de que o meu filho estaria vivo. Mas foi só um sonho.

A revolta tomou conta de mim e não queria aceitar a perda de um ente tão querido. Acabei ficando alheia ao que acontecia ao meu redor, porém não pude deixar de perceber quantos amigos e parentes estavam presentes e preocupados para nos dar carinho e palavras de conforto.

No meio deste sofrimento, o que mais me confortava era o semblante sereno do meu filho e essa serenidade também tocou o coração de muitas pessoas. Nos dias que se seguiram, toda a família se reuniu para orarmos juntos. Pensei comigo: será esta a missão do nosso filho? Por algum tempo, fiquei muito deprimida, porém percebi que estava sendo egoísta e provocando preocupação e sofrimentos para os meus familiares. Nessa ocasião, decidi me reerguer tendo como base a frase das escrituras de Nitiren Daishonin que diz: "Sua mente, agora desnorteada pela escuridão inata da vida, é como um espelho embaçado, mas se o polir, é certo que tornar-se-á claro como o cristal da iluminação das verdades imutáveis. Manifeste-se fortemente na prática da fé, polindo o seu espelho incessantemente, dia e noite. Como deve polí-lo ? Não há outro modo, a não ser devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo".

Com toda essa determinação, quis recuperar o tempo perdido e empenhei na recitação do daimoku. Decidimos participar da VII Convenção do Grupo Renascença (membros brasileiros da região central do Japão), mas eis que de novo, uma grande maldade se levantou. Mas, desta vez, já sabia do caminho da vitória e não vacilei. O meu marido, após tomar banho e ter se vestido, desmaiou repentinamente e não consegui reanimá-lo. Entrei em pânico, mas consegui fazer massagem no coração, acompanhada de respiração boca-a-boca. Além disto, orei com todas as minhas forças para salvar o meu marido e agradeci pelo fato de tudo ter acontecido dentro de casa. Quando a ambulância chegou, ele havia voltado a si e apesar dele ter sido hospitalizado, nada de grave foi constatado.

Novamente, nessa ocasião, contamos com o apoio e o carinhos dos amigos e membros da Soka Gakkai. Deste então, passei a orar com muita fé e compreendi que todos esses obstáculos estavam acontecendo para que surgisse a dúvida e abandonássemos a prática. Porém, percebi que através de todos esses sofrimentos que passei, eu cresci como pessoa. Não posso esquecer também que sempre pude contar com os calorosos incentivos da sra. Elisa Nakamura, a quem devo muito.

Se estou aqui hoje, relatando as experiências da minha vida é porque muitas pessoas se preocuparam comigo e queriam que eu vencesse nos momentos amargos e difíceis que vivi. Sou grata a todos, e se algum dia, precisarem de ajuda, contem comigo. O movimento harmonioso, desse círculo de amizade, onde o incentivo mútuo está sempre presente, é o movimento pela paz e felicidade de toda a humanidade, impulsionada pela Soka Gakkai. Faço parte desse movimento, porisso conquistei a minha vitória. Conquiste a sua também. Muito Obrigada.

Preciosa Colaboração de
Charles Tetsuo Chigusa chigusacharles@hotmail.com Tóquio - Japão


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