Relato de Experiência
Celeste Midori Watanabe


"Eu e meus discípulos, mesmo que ocorram vários obstáculos, desde que não se crie a dúvida no coração, atingiremos naturalmente o Estado de Buda. Não duvidem dos benefícios do Sutra de Lótus, mesmo que não haja proteção dos céus, não lamentem a ausência de segurança e tranqüilidade nesta vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite a meus discípulos, todos, criando a dúvida, abandonaram a fé. O que é costumeiro no tolo é esquecer nas horas cruciais o que prometera nas horas normais" – Abertura dos Olhos.

Esta frase das Escrituras de Nitiren Daishonin me acompanha desde o festival de 1984 quando todos os membros do "Super Fantástico" um grupo de apresentação do qual participei, estudaram e decoraram para ser uma fonte de incentivo para enfrentarmos as dificuldades que passávamos naquela época, durante a apresentação perante o Pres. Ikeda, jurei internamente a ele que levaria este juramento comigo por toda a vida.

Meu nome é Celeste Midori Watanabe, pertenço a Comunidade Tropical, pratico este Budismo desde que nasci e durante toda a minha vida recebi provas de que este é o único meio de transformarmos o nosso karma negativo, não há nenhuma dúvida quanto a isso.

No dia 22 de março passado, resolvemos fazer uma viagem para Peruíbe... Achei que seria uma ótima oportunidade para viajarmos em família pois a Tininha e o meu sobrinho Júlio viajariam conosco... A viagem transcorreu bem... Tudo estava perfeito... principalmente o clima, pois não havia um sol muito forte e com isso as crianças poderiam aproveitar bastante sem prejudicar a saúde, todos nos divertimos muito, principalmente com a emoção de ver o Júlio César surpreso por ver o mar pela primeira vez.

Mas enfim, se aproximava à hora de voltar a São Paulo, e já sentíamos saudades do local...

Quando foi no sábado, dia 25 no período da manhã estávamos vindo embora, um senhor me preveniu a respeito do pneu do carro que estava furado... então passamos num borracheiro, e trocamos o pneu... eu aproveitei e pedi para que ele olhasse a água do carro... (Sempre costumo ser muito atenta com Prevenção de acidentes como se eu já pressentisse algo...), depois de verificado as condições do carro, certificada de que estava tudo bem, prosseguimos a viagem.

Durante a viagem, conversávamos a respeito de como havia sido proveitosa esta viagem para a nossa família...

Quando pegamos a Imigrantes, na subida da serra, senti que meu carro não respondia a aceleração, parecia que algo o amarrava, achei estranho...mas continuei a subida... então o ponteiro de temperatura do carro subiu rapidamente...

Daqui para frente, tudo o que aconteceu foram provas de proteção dos Deuses budistas;

 comecei a orar internamente, pois é sempre um risco parar o carro no acostamento das estradas, minha preocupação aumentava ainda mais por causa das crianças... Então encontrei um trecho na estrada que havia um acostamento maior pois havia uma obra por perto... Resolvi parar o carro ali...

A primeira providência que costumamos tomar quando acontece esse superaquecimento é abrir o capô, e esperar que o carro esfrie... Este é o costume, (mas não o correto, mal sabia eu, o risco que corria)... Eu e a minha irmã não entendíamos nada do assunto, mas ficamos ali em frente ao capô olhando, tentando achar alguma anomalia no carro, como não encontramos nada... resolvemos esperar esfriar normalmente.

Foi quando de repente escutei um barulhão imenso, e uma dor fulminante no lado esquerdo do meu corpo, a mangueira do radiador explodiu, e jorrou água misturada com óleo fervente, e vapor em mim; na hora não pensei em nada agi por reflexo, comecei a correr e gritar alucinadamente, não conseguia suportar tamanha dor, no momento só conseguia recitar o Nam myoho rengue kyo, e agradecia imensamente ao Gohonzon pelas crianças estarem salvas, pois aquela dor eu não desejaria a nenhum ser vivo, eu olhava para as crianças e via o medo estampado no rostinho deles, tentava me controlar, para não assusta-los ainda mais, e orava pedindo que o socorro chegasse logo...pois num momento como aquele minutos viram horas..., estava totalmente desesperada, pois as pessoas que viam meus ferimentos acreditavam que eu não me recuperaria...e que ficaria deformada, eu podia ler isso nos semblantes das pessoas...

Chegando a ambulância, fui prontamente socorrida... eles fizeram de tudo para amenizar minha dor, mas era quase que nada... pois a ambulância que me socorreu não tinha muitos recursos...

Mas qual não foi minha surpresa e gratidão logo a ambulância estacionou e me removeram p/ uma ambulância UTI, aonde tinha um para-médico, muito atencioso que me aplicou um sedativo...e só assim, consegui prosseguir a viagem tranqüilamente, chegando em São Bernardo do Campo fui hospitalizada em um hospital aonde todos os funcionários me receberam com muito carinho.

No domingo passei pelo primeiro de 4 tratamentos cirúrgicos no qual me submeteria, aonde seria necessário tomar anestesia geral...senti medo, pois sei que esta anestesia é sempre um risco . Achava que estava bem...pois não sentia mais nenhuma dor, mas percebia o quanto a minha pele estava feia e exalava um cheiro que me provocava ânsia de vômitos, mas mesmo assim, já me sentia mais aliviada ...

Mas tudo isto era só o começo, eu não sabia que a falta de dor era devido aos fortes sedativos que injetavam em mim... e gradativamente eles diminuíam as doses, foi quando comecei a deparar com a realidade mesmo,... sentia dores só ao respirar... tinha que ficar numa cama apenas numa posição, pois a queimadura não podia ter contato com nada, então ficava sem roupa numa espécie de cabana, e sem poder me mexer, sentia dores nas costas, cabeça... sem contar algumas vezes que fiquei com febre e tremia de frio sem poder me cobrir. Sentia-me constrangida, deprimida pois não tinha idéia de como é ruim precisar depender de outras pessoas até para ir ao banheiro, ou comer...

Recebia visitas de muitos companheiros, e isto me incentivava bastante... pois nestas horas sentimos que não somos apenas companheiros de luta, mas sim uma grande família, e me senti querida por todos... Isso me motivava a sair logo desta, pois percebi que a minha vida e saúde não são importantes apenas para mim...

Depois comecei a ter problemas com as pessoas que iriam me acompanhar no hospital, pois eu estava completamente dependente disso, minha mãe trabalha fora, e percebia a quão cansada ela estava quando chegava no hospital para me fazer companhia., minha irmã tem o filho pequeno que não dorme se não tiver a companhia dela, e mesmo assim ela participava do revezamento, mas sentia a preocupação dela para com o filho enquanto estava comigo, a minha amiga que também participava do revezamento, estava com sua mãe doente, que precisava da ajuda dela, outras pessoas se ofereciam para ficar comigo no hospital, mas sentia me muito constrangida pela situação que eu me encontrava, vendo tudo isso, comecei a me deprimir me sentindo culpada por ter que mobilizar as pessoas,... e o cerco se apertava pois os dias iam passando e o médico não tinha previsão de minha alta.... Foi quando decidi desafiar... pois antes só fazia o Daimoku mentalmente, mas não estava desafiando no Gongyo e Daimoku, então comecei a fazer o Gongyo diariamente, para que eu pudesse reverter esta situação... assim comecei a criar uma força inesperada de dentro de mim, pois mesmo com as dores, tinha energia para poder andar pelo quarto e ir ao banheiro sozinha... , mas mesmo assim o médico não me dava uma esperança.;... e houve um dia que o desespero tomou conta de mim...pois... já não agüentava mais aquela situação.... e cai no choro... chorei muito... como se desabafasse de uma vez todo o sofrimento que havia passado, e até apareceu um psicólogo no meu quarto para conversar comigo, me acalmei de fiquei firme nas minhas orações, à noite minha irmã veio com minha mãe e meu cunhado trazendo flores que me alegraram muito...

No dia 04 de Abril, depois de 10 dias internada a enfermeira me acordou dizendo que médico pediu para que ela me desse banho e que se eu suportasse lavar aquele ferimento significava que eu estaria de alta, na hora senti medo...mas desafiei... mentalmente fiz Daimoku e fui para o banho.... e não senti dores... consegui tomar meu banho tranqüilamente e esperar pela chegada do doutor. E assim que ele chegou... Deu-me alta...

Chegando em casa fui me deitar, sentia dores ainda, dificuldades para andar... mas ainda assim estava feliz, passaram-se alguns dias e percebi que meus ferimentos não cicatrizavam e cada dia que passava sentia-me com mais dificuldades para andar...

Então retornamos no médico, que me orientou a tomar banho de 2 horas 2 vezes ao dia e que eu esfregasse a queimadura com uma escova de dente ... Na hora protestei, disse a ele que não agüentaria de dor... mas ele insistiu...Disse-me que eu tinha que agüentar...pois esse era o tratamento normal..., pois assim provocaria uma irritação nos ferimentos e o organismo reagiria contra a infecção naturalmente... Mesmo duvidando de tal tratamento, voltei para casa decidida a tomar coragem e obedece-lo, pois queria sarar logo...

Quando foi à noite, fui para o banho... e fiquei 2 horas debaixo do chuveiro com uma escova de dente tentando arrancar toda a camada de fibrina que se formou em cima da queimadura... Chorei de dor... mas mesmo assim esfreguei...até sangrar...

Quando desliguei o chuveiro, quase morri de dor... A dor que senti fora semelhante àquela que senti no momento do acidente...

Tomei analgésico e mal consegui dormir... No dia seguinte, telefonei para o convênio e relatei tudo, e eles me indicaram o Hospital Defeitos da Face, que em São Paulo é o melhor em queimaduras...

Então a minha mãe e a Sra.Vera Miashiro me levaram para este hospital no mesmo dia...

Chegando lá, os médicos ficaram assustados com o tratamento pelo qual eu fora submetida, pois a região estava com queimaduras de 3o. grau e profundo, não poderia ficar exposto por forte risco de infecção, menos ainda lavar com água comum e ainda por cima "escovar" o ferimento... Por sorte eu não peguei uma infecção.

E então fui novamente internada e tratada por uma equipe de cirurgiões plásticos, que me submeteram a uma cirurgia para fazer um enxerto de pele...

Novamente ocorreu tudo bem com a cirurgia, ainda tive mais algumas dificuldades pois sentia dores na perna (na parte doadora), mas as queimaduras já não doíam mais...

Estava tudo bem agora... Só precisava ter paciência com a minha lenta recuperação...

Mas aproveitei aquele tempo para me dedicar às leituras de orientações do Presidente Ikeda,e muitos livros que desejava ler a há tempos .

Aprendi muito neste período... Sinto que mudei muito também...

Hoje, depois de refletir, vejo que poderia ter sido bem pior, e tudo isso o que eu passei foi uma amenização do meu karma negativo, e ainda assim obtive grandes comprovações da proteção dos Deuses Budistas,

*Foi uma grande boa sorte encontrar aquele local para parar o carro, pois como havia esta obra, haviam muitos homens trabalhando e até mesmo um guarda da ecovias com um rádio, possibilitando chamar o socorro rapidamente.

*Outra boa sorte, é que é costume do meu sobrinho querer ficar no colo da mãe, ainda mais porque durante a viagem ele não estava no colo dela, pois ela veio no banco da frente e ele no banco de trás com a avó......

E então seria absolutamente natural que ela ficasse com ele no colo próximo ao carro também...E a Cinthia também...pois é muito curiosa... Se isso acontecesse, eles certamente seriam atingidos, e no caso deles poderiam correr risco de vida.

Mas não... a minha mãe pegou o Júlio e a Cinthia e foram descansar numa pedra distante do carro..... a minha mãe achou esta atitude dela incomum, pois no seu natural ela não iria para tão distante do carro, pois era um matagal, e havia muitos insetos e poderia até haver cobra, ela não consegue entender como não pensou nisto naquela hora...

*outra proteção também foi percebida por ela, no momento em que eu estava gritando de dor, ela deixou o Julio sentado sozinho, naquela pedra que beirava um precipício, assustada com a cena ela nem percebeu que o neto um bebê de pouco mais de 1 ano, poderia cair naquele barranco, isso realmente Foi Uma Grande Proteção!

me considero uma pessoa de muita boa-sorte, primeiro porque eu tenho o costume de viajar de noite, sempre preferi dirigir a noite, pois as estradas são mais tranqüilas, neste dia se eu tivesse viajado de noite, o socorro seria muito mais demorado, e fico pensando no risco de vida que nós correríamos ficar com o carro parado num acostamento de estrada sendo que estávamos em apenas 3 mulheres com 2 crianças...

segundo porque todos os médicos que passaram por mim, foram unânimes ao afirmar que é comuns esse tipo de acidente com radiadores de carro, mas em quase 100% dos casos a vítima se queima no rosto, e que a pele do rosto não volta ao normal, e que se tivesse espirrado 1 gota sequer no olho, eu ficaria cega.

Tenho a boa sorte de ter um marido maravilhoso que me mesmo de longe me apoiou, e sofreu junto comigo.

Quero agradecer a boa sorte de poder contar com a solidariedade dos meus companheiros da organização que oraram por mim, e aqueles que me visitaram no hospital e em casa sempre me trazendo incentivo e alegria por estar viva!,

E a boa sorte de fazer parte desta maravilhosa Grande Família chamada Soka, e ter um mestre como Presidente Ikeda, que nos apóia e incentiva sempre.

E como me disse a Sra Uchijima em sua visita a mim no hospital: Nem todo o tesouro do mundo tem o valor de uma Amizade... neste caso então, posso me considerar a pessoa mais afortunada do mundo, pois tenho os melhores amigos do mundo!

Muito Obrigada

Celeste
celeste_watanabe@uol.com.br

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