O pequenino príncipe SEM-PAI
(O poder da verdade)



Era uma vez, havia um rei que governava o reino de Benares, e um dia resolveu levar seus amigos para fazer um piquenique na floresta. Ele estava muito feliz, pois adorava apreciar a natureza, as belas flores do campo, as frondosas árvores com suas saborosas frutas. Ao apreciar tamanha beleza, o rei de Benares caminhou floresta adentro, cada vez mais, e acabou se perdendo de seus companheiros.

Ao mesmo tempo que notou que estava perdido, ouviu uma doce melodia, cantada por uma uma jovem mulher, e rapidamente sentiu-se atraído em seguir tão doce voz, pois este canto lhe tirava o medo de estar perdido naquela vasta floresta, e o acalmava. Quando finalmente a alcançou, se deparou com uma linda jovem, que o encantou no mesmo instante. E ele imediatamente se apaixonou por ela, eles sentiram-se tão atraídos um pelo outro que ali mesmo na floresta, conceberam um filho.

Mais tarde, o rei explicou ‘a jovem moça quem ele era, de fato, o Rei de Benares, e que não poderia ficar com ela vivendo na floresta. Ela, entristecida mas compreendendo a situação, indicou o caminho de volta para que o rei pudesse chegar seguro em seu castelo antes do anoitecer. Em sinal de sua gratidão, o rei lhe deu um anel de esmeraldas, muito bonito, e disse-lhe: “Se deres luz  ‘a uma menina, quero que venda esta valiosa peça para criá-la bem. Se deres luz ‘a um menino, traga-me junto com este anel, para que eu o reconheça como meu filho legítimo”.

Em poucos anos este bebê se tornou um lindo menino. Porém, sempre andava casbibaixo, pois seus amiguinhos o provocavam e o maltratavam, justamente por ser filho de uma mãe solteira. E o chamavam sempre: “Você é um SEM-PAI!! Você é um SEM-PAI! Haahh..!!!”

Isto causava muita vergonha e tristeza ao pequeno garoto, e sempre que isto acontecia, corria para casa chorando. Um dia, contou ‘a sua mãe todo o sofrimento pelo qual vinha passando há algum tempo, e que seus amigos o chamavam de “sem-pai”, e a mãe, entristecida com este fato, resolveu contar a seu filho toda a verdade: “Meu filho, não se sinta envergonhado...você não é qualquer pessoa: seu pai é o Rei de Benares!”

O pequenino se surpreendeu, não podia acreditar e disse: “Mãe, você tem certeza, tem prova do que acabou de me dizer??” E ela lhe contou o que o Rei de Benares havia lhe dito sobre o anel, caso seu filho fosse um menino. E o menino, entusiamado lhe disse: “Mãe!! Vamos então encontrá-lo, rápido!!!”

Quando chegaram ao palácio do rei, os guardiões informaram ao rei que uma pobre senhora da floresta junto a seu filho queriam vê-lo. O rei autorizou a entrada deles, e os recebeu no salão da assembléia principal, onde se encontrava reunido com seus súditos, ministros e conselheiros. A mulher se apresentou, e o lembrou de que estiveram juntos na floresta há alguns anos, e finalmente disse: “Majestade, aqui está: seu filho...”

O rei se envergonhou-se diante de tal situação, e perante a toda sua corte, e mesmo sabendo que realmente aquela história era a pura verdade, ele se pôs de pé e disse:” Isto não faz sentido. Este menino não é meu filho”.

E a doce senhora, indignada, mostrou-lhe o anel como prova de suas palavras. E mesmo assim, o rei insistiu: “Este anel não pertence a mim!”

Diante de tal situação, a pobre mulher pensou consigo mesma: “Não tenho sequer qualquer pessoa que tenha testemunhado tal fato, muito menos alguma outra evidência que eu possa aqui mostrar para provar que o que digo é a mais pura verdade...Eu somente tenho a minha própria fé e forte convicção no poder da verdade”. Então, ela disse ao rei: “Se eu jogar este menino ao ar, e caso ele realmente for seu legítimo filho, não cairá e levitará no ar. Caso ele não seja seu filho, quero que caia ao chão e morra aqui mesmo!”

De repente, ela tomou o filho pelos pés e o soltou ao ar. Para a surpresa de toda a corte e os demais presentes no salão,  o garoto sentou de pernas cruzadas, suspenso no ar sem jamais cair. Todos ficaram boquiabertos, alguns muito assustados até mesmo para dizer qualquer simples palavra. Mantendo-se no ar, o pequeno garoto se dirigiu ao rei e disse-lhe: “Meu Lorde, eu sou de fato seu filho. Como pode o senhor, cuidar de tantas pessoas que nem mesmo possui qualquer relação? Como pode o senhor cuidar até de elefantes, cavalos e todos os outros animais, e ainda assim, não ter podido nem mesmo pensar em cuidar de mim, seu próprio filho. Por favor, peço-lhe que tome conta de mim e de minha querida mãe”.

Ouvindo tais palavras, toda a dureza e orgulho inabalável do rei foram transpostos. A humildade do poder das palavras daquele garoto simplesmente o tocou profundamente. O rei extendeu seus braços e disse: “Venha aqui, meu filho, eu cuidarei de você, de hoje em diante”.

Maravilhados por aquela cena que haviam acabado de presenciar, todos os demais presentes na assembléia da corte também extenderam seus braços, como um ato de louvor ao menino, querendo também segurá-lo cada um em seus braços, mas ele estava tão feliz por seu pai finalmente o reconhecer como filho, que voou para os braços do Rei de Benares. Com o filho sentado em seu colo, o rei anunciou diante de todos que este era o príncipe de Benares, prestes a ser coroado, e que sua linda mãe, seria coroada a rainha do reino de Benares.

Este fato trouxe o profundo significado do poder que uma verdade contém. Desde então, o reino de Benares ficou conhecido como o lugar da justiça e honestidade. O tempo se passou, e o rei veio a falecer. O príncipe coroado, agora crescido, fazia questão de sempre mostrar a seu povo que toda e qualquer pessoa é digna de respeito, não importando em que condições veio a nascer neste mundo. E para isto, o príncipe se coroou sob o nome de “Rei Sem-Pai”, e conduziu seu reinado sempre de forma correta e generosa.

Moral da história:

Na batalha entre a verdade e a mentira, a verdade sempre vence.

 

A tradução deste texto é uma preciosa colaboração de 
Cristiane Kajimura kriskaji@yahoo.com 

Com ilustração de Sandro Neto Ribeiro contato@maisbelashistoriasbudistas.com 

Referências  bibliográficas


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