A busca do prazer e a AIDS

Neste texto, gostaríamos de abordar dois pontos: a busca da sexualidade como forma de prazer e a importância do equilíbrio emocional e da convicção pessoal para o combate das enfermidades.

O sexo é uma força dominante na vida humana – além do que, é a direção que assegura a sobrevivência das espécies. Assim, muitas das sociedades declaram que a procriação é a única função da sexualidade e proclamam um rígido código moral no que se refere ao sexo. Se a procriação é a única função do sexo, então parece haver um grave defeito nos seres humanos. Nós temos inúmeras zonas erógenas, diferente de muitos animais, que apresentam um período de cio para se acasalarem. Além disso, somos capazes de ser sexualmente ativos por toda a existência, como por exemplo, após a menopausa feminina.

Assim, podemos fazer uma analogia em nossa relação com os alimentos, cujo papel em nossas vidas foi aprimorado de um simples combustível para manter nosso corpo, num ato de devoção, na qual o ato de cozinhar para alguém expressa o nosso amor. Assim, através da sexualidade, nós somos capazes de manifestar todo o nosso carinho e amor que sentimos por alguém.

No diálogo com o sociólogo Brian Wilson, o presidente Ikeda manifestou que "dada a natureza do ser humano e da sociedade em grande parte do mundo moderno, é provavelmente inevitável a ênfase nos aspectos agradáveis do sexo. A questão importante consiste em não suprimir os desejos humanos naturais, mas na conscientização de certa ética que os impeçam de gerar tragédias". Por exemplo, se sentirmos atraídos por alguém que não nos inspira o mínimo de respeito, a relação sexual será regida pelo estado de animalidade, na qual busca a mera satisfação do instinto individual e momentâneo. Deste modo, este ato poderá gerar consequências desagradavéis para ambas as partes.

Semelhantemente, o historiador Arnold Toynbee declarou: "O desejo não pode ser extinguido, nem suprimido da consciência para o nível subconsciente da psique…de outro modo, ele pode ser deliberadamente orientado para objetivos que são positivos para o indivíduo, para os seres humanos ao seu redor e para o universo como um todo. Deste modo, é importante que nos tornemos capazes de desfrutar a sexualidade de modo a trazer prazer e valor para si e aqueles que estão ao nosso redor".

Com o surgimento da AIDS, houve um grande processo de conscientização social no que se refere ao ‘sexo seguro’, ou seja, onde não há o contato de fluídos (tais como esperma e sangue) com áreas de fácil absorção do organismo (como mucosas ou feridas). No que se refere ao intercurso sexual, a técnica mais divulgada é a utilização da camisinha, que apesar de não apresentar 100% de segurança, é uma das formas mais eficazes para combater a ascendente disseminação do vírus HIV.

Embora a AIDS seja considerada uma doença incurável, o grau de sobrevida é elevado. Muitas pessoas são soropositivas há mais de uma década e apresentam mínimas variações imunológicas. Por ser uma doença que envolve dois tabus da sociedade moderna: a morte e o sexo, muitos enfermos são estigmatizados pela sociedade e pelos próprios familiares. Deste modo, o indivíduo, já debilitado fisicamente e não encontrando nenhuma forma de apoio emocional interior ou por aqueles que o cercam, vai perdendo a capacidade de reação perante as infecções, o que ocasiona a inevitável morte.

Há diversos casos de praticantes do budismo que são portadores do vírus da AIDS e estão mantendo uma atitude positiva dentro de suas existências, o que lhes proporciona uma vida muito mais significativa. Stephen Runk, membro da SGI-USA, descreve em seu relato de experiência. "Sim, eu tenho AIDS, mas eu também tenho minha vida e meus sonhos. Assim, minha vida tem se modificado de muitas maneiras. Por que, eu sou capaz de oarar diante do Gohonzon e praticar entre os membros desta organização, eu tenho sido capaz de desenvolver uma visão de vida que me permite viver com este vírus. Por eu ser capaz de criar benefícios evidentes no meu dia-a-dia através desta prática, a qualidade da minha vida continua me dando todo o apoio e eu sou capaz de enfrentar cada novo desafio com um senso de apreciação.

Amigos geralmente me perguntam como eu conduzo de forma fácil e positiva toda esta situação. A resposta que lhe dou é que através desta prática, eu aprendi a não temer a minha própria mortalidade e de expressar o melhor em minha vida".

Outro membro, Row Lawson, de Los Angeles, manifestou: "Eu tenho lutado, usando o Gohonzon como centro. Tomando ações, orando, incentivando os membros, isto é o que faço como luta. Eu não quero que esta doença me controle. Eu não posso deixar que ela tenha um poder sobre mim. Assim, eu continuo lutando contra esta maldade que existe dentro de mim".

A morte, como um aspecto inevitável de nossas existências, sempre foi cercada pelo medo o desconhecido e inesperado. A AIDS que debilita o físico gradativamente e de modo imperdoável, faz emergir em nossos corações os nossos mais profundos medos: o sofrimento, a dor e o desconhecido pós-via. Stewart Anderson, membro da SGI-UK, falecido em 1987, após praticar o budismo por sete anos, expressou as seguintes palavras, um pouco antes de morrer:

"Você vê pessoas sofrendo sem precisar. Sofrer não é a questão real. As pessoas esquecem que nós temos esta chance, que a vida está realmente em nossas mãos. Quando você luta, é importante lembrar que você escolheu seu carma, que você o criou. Desafiando a AIDS, eu fui capaz de tomar responsabilidades por minha vida. Quando eu morrer, esta será a celebração de como a minha vida foi preciosa".

A experiência de Anderson é um exemplo do princípio conhecido como "transformar o veneno em remédio". Em outras palavras, assumir como sua responsabilidade as mais terríveis situações e utilizando-as para progredir muito além do ponto de partida. Deste modo, poderemos desfrutar um sentimento de realização muito maior e coroarmos nossas existências com vitórias. Estas palavras podem ser exemplificadas pelo significado da palavra crise em chinês: a oportunidade existe mesmo em meio do perigo.

O presidente Ikeda, no livro "Desvendando os Mistérios da Vida e da Morte",afirma: "Se nós conseguirmos perceber o nascimento e a morte como aspectos intrínsecos da vida eterna, nós caminharemos da ilusão para o despertar. Então, não iremos temer os sofrimentos do nascimento e morte, e poderemos acumular tesouros de incalculável valor dentro de nossas vidas, baseados no nosso eterno e indestrutível estado de Buda, desfrutando eternamente o ciclo de nascimento e morte.

Quando nós observamos a natureza, a sociedade e nossas questões diárias, nós poderemos identificar que todas estas áreas estão em um constante fluxo, nunca permanecendo no mesmo estado e constantemente repetindo o ciclo de nasciemnto e morte. Assim podemos perceber que a vida coexiste com o universo e que o nascimento e morte são aspectos alternados da vida que é eterna. No ato de descobrir o nosso imutável eu – o eu que não se afeta pelas mudanças da vida e sociedade humana – nós seremos capazes de sobrepujar nosso medo em relação a morte. É minha convicção que não há nada mais esplêndido para o ser humano do que alcançar este estado de vida".

Neste sentido, no ato de suplantarmos os nossos próprios limites até a hora de nossa morte, reside a comprovação de uma existência coroada de vitórias.

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Preciosa Colaboração de
Charles Tetsuo Chigusa chigusacharles@hotmail.com Tóquio - Japão