O zelo de Ananda


Ananda era primo de Buda. Tornou-se discípulo de Buda junto com Devadata, seu irmão mais novo, que só aprontava e fazia os demais sofrerem por sua causa. Ananda era espontâneo, inteligente e, tal como Buda, tinha um semblante bem delineado. Quando Buda completou 55 anos de idade disse:

- Até hoje, muitas pessoas revezadamente me serviram. Todavia, devido aos constantes rodízios, imagino que pela falta de costume tenham encontrado dificuldades. Portanto, gostaria que uma determinada pessoa fizesse o meu auxilio de modo constante.
Neste momento Mokuren disse a Ananda:

- Ananda, gostaria que você se tornasse nesta pessoa que servirá constantemente o nosso Nobre Mestre.

Para Ananda, estar sempre junto do Mestre Buda era motivo de imensa alegria. Porém, não bastava estar apenas junto. Ele precisava anular-se para servir ao Buda o máximo possível e compreender seus superiores também. Essa função era considerada a mais primária de um monge e sua permanência nesta função implicaria na sua ascensão na hierarquia sacerdotal.

Ananda respondeu:

- Se Buda me prometer três coisas, o servirei constante e alegremente. São elas:

1- Que Buda não me dê ou ofereça nenhum objeto.
2- Que ao Buda se sirva numa mesa em que eu não possa me servir.
3- Por mais que eu esteja junto dele, de modo constante, que ele não me odeie.

Mokuren transmitiu a Buda as condições de Ananda. Buda as aceitou e, assim, Ananda - aos 25 anos - tornou-se o "Auxiliar" (Disha) constante de Buda.

Graças ao acompanhamento constante de Ananda, pode-se dizer que ele ouviu todos os ensinamentos de Buda. Também, além disso, graças à sua memória magnífica, foi capaz de guardar cada palavra mencionada por Buda, sem qualquer margem de erro; tamanha era a sua força de concentração.

Certa vez, surgiu nas costas de Ananda  um grande furúnculo que o fazia sofrer muito. Na índia daquela época havia um famoso médico chamado Guiba, a quem Buda pediu que fizesse uma cirurgia e curasse Ananda da ferida nas costas.

No entanto, só de ameaçar tocar, nas costas de Ananda, já começava a doer. Desse modo, Guiba disse a Buda que nada poderia fazer. Buda sorriu e lhe disse o seguinte:

- Quando eu lhe fizer um sinal, de imediato trate o ferimento de Ananda. Tenho certeza que ele não irá se contorcer de dor. Logo em seguida, Ananda, sem nada saber, sentou-se à frente de Buda.

Buda Sakyamuni e Ananda

Buda lhe disse:

- Ananda, olhe bem para os meus olhos e concentre-se apenas em ouvir minha voz.

Buda fez um sinal para Guiba e iniciou a pregação de quanto o Darma Sagrado era virtuoso e profundo. Guiba logo começou a cirurgia. Fez uma incisão no local da ferida, extraiu todo o pus, passou o remédio. Costurou e concluiu a cirurgia.

Por outro lado, Ananda ainda continuava atento, sem sequer piscar, ao ouvir os ensinamentos de Buda. Guiba anunciou:

- Nobre Buda, terminei a cirurgia. Já está tudo bem. Foi quando Buda perguntou a Ananda:

- Ananda, como vai a dor nas costas?

Ananda assustou-se pois até agora a pouco suas costas doíam tanto e agora não sentia mais nada. Ananda perguntou:

- O que aconteceu?

Buda alegremente respondeu:

- Sua fé o permitiu se concentrar tanto em ouvir os ensinamentos que o fez esquecer da dor nas costas.
Quando Buda estava prestes a adentrar ao Nirvana elogiou Ananda da seguinte forma:

- Ananda me serviu por muitos anos e nunca se serviu da mesma comida, também, jamais desejou novos trajes. Quando não necessitava dele estava ausente, e quando necessitei dele sempre esteve presente. Também nunca demonstrou apego a qualquer objeto valioso. E, sempre que ouvia os ensinamentos, aprendia todos eles logo na primeira vez.

Fez-me pergunta apenas uma vez. Foi quando o príncipe Ruri eliminou todo o Clã Shaka. Foi a pergunta que fez, às lágrimas:

- Diante de tamanha tragédia, como Buda pode manter-se tão sereno?
Soube compreender a mim e aos meus discípulos. Sem mesmo que eu tivesse que me expressar compreendia meus sentimentos. Ananda para mim é como se fosse meu irmão mais novo.

Desta forma, por 15 anos Ananda serviu e zelou constantemente de Buda.
Por isso permaneceu no mais reles grau sacerdotal.

Porém, graças a isso, pôde aprender todos os ensinamentos de Buda, ser lembrado e respeitado para sempre, como o discípulo "Zelo nº1" de Buda.

Graças à expressividade de seu zelo ao Buda foi incluído entre os Dez mais Notáveis Discípulos de Buda.

Após o falecimento de Buda liderou o primeiro movimento de compilação dos Sutras por ter sido quem mais ouviu e por ter uma memória infalível.

Também, com todo o cuidado e respeito, sempre iniciava a transmissão dos ensinamentos de Buda com a seguinte frase:

Assim eu ouvi.

Tal frase demonstra o tamanho respeito e fidelidade que sempre prestou ao Nobre Mestre Buda. Tal frase, também, é famosa por constar no início dos Sutras Budistas diferenciando-os das demais doutrinas.

 


Adaptado dos Contos Infantis Budistas (Bukkyou Douwa). 1994.
Preciosa colaboração de Marcia Ferreira dos Reis
Desenhos Sandro Ribeiro
Referências  bibliográficas

 

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